18 junho 2011

A tal malandragem


A arte de flanar rareia. Vejo-me por vezes capturado em certos enquadramentos, e, em seguida, uma insânia me consome. Sinto saudade da verdadeira loucura. Não essa angústia adulta que às vezes rouba meu sono e abate meu sorriso. Não essa noção de responsabilidade que muitas vezes traz o cogitar antes de qualquer coisa. Não esse sentimento instituinte de falta. Quero o vário, o múltiplo, a coragem e umas asas grandes.

Por uma costela







No ônibus, um homem me dizia que seu sonho é morrer sobre uma moto em alta velocidade.
Ainda jovem assim?, perguntei.
Ele me contou que desde os doze anos teve motocicleta e gosta da velocidade nas duas rodas. Morrer dessa maneira é sonho antigo, mas teve de vender o meio de transporte porque sua mulher grávida apelou para "a moto ou eu". E ele escolheu a máquina.
Cinco dias depois voltou para casa, pois não aguentou de saudade: "Nada como uma costelinha para abraçar em cima da cama".

Sintoma


Certa tarde, eu lia na praça Maracanã. Passou um homem jovem e parou bem no centro dela. Juntou as mãos como se empunhasse uma ferramenta. Olhando para todos os lados, fazia movimentos longitudinais enquanto repetidamente gritava: "O peso do mundo!".
Quase juntei-me a ele.