Como não utilizar o futuro do pretérito?
Ao som de "Nothing compares 2 U", na interpretação de Jimmy Scott.
Melissa P. descobria o amor e o sexo, idealizava um certo rapaz, e, na impossibilidade de concretizar seus anseios, entregava-se às febres e aos gozos quase anônimos. Já que os homens podiam seduzir e desseduzir, por que ela não poderia também?
Seus encontros minimizavam uma dor, e pôde comprovar isso quando provocou o sangue e conteve as lágrimas. Quando ignorou um desejo específico e se entregou a outro inesperado. Quando viu seu diário desnudado e mandou todos à merda.
Mas ela queria aquele olhar que aguardou, aquele abraço que viu sua avó receber do namorado, aquele carinho que um dia viria. Queria tanto que até tentava mudar de idéias. E depois da centésima escovada no cabelo poderia deixar de sentir isso. Mas não conseguia.
Eu já pedi ao panteão para deixar de desejar o distante e esquecer a completude. E todas as canções me levam àqueles olhos, àquelas mãos quentes, àquela cara de criança que come chocolate.
Não dói, apenas preparo-me para possível reencontro passando cem vezes a pedra pomes nos pés ao banhar-me.